Sempre que falo em sala de aula sobre
ambiguidade, trato disso como um erro que prejudica um texto. Isso decorre do fato de eu sempre “ensinar”
como se escreve um bom texto.
A ambiguidade é sim um problema que os textos podem apresentar e que se
configura como um ruído da comunicação. Vejam o texto abaixo o que uma interpretação pode fazer:
AMBIGUIDADE É MESMO UM PROBLEMA NA INTERPRETAÇÃO?
Desconheço a procedência do texto, mas já o usei diversas vezes em aula para explicar
o que é ambiguidade e também
polissemia. Por enquanto, fiquem com um belo exemplo de texto cuja confusão
nas construções sintáticas e no vocabulário provoca um certo efeito de humor.
Em certa ocasião, uma família britânica foi passar as férias na Alemanha. No decorrer de certo passeio, os membros da referida família encontraram uma pequena casa
de campo que lhes pareceu ótima para passarem as férias de verão.
Conversaram com o proprietário, um pastor protestante, e pediram que
lhes mostrasse a casa. A residência agradou aos visitantes ingleses que
combinaram
de ficar com ela para o verão próximo. Regressando à Inglaterra,
discutiram muito sobre a planta da casa, quando, de repente, a senhora
lembrou-se de não ter visto o WC. Confirmando o senso prático dos
ingleses, escreveram para o pastor para obter tal pormenor. A carta foi
assim redigida:
“Gentil pastor, sou membro da família que há pouco tempo o visitou, com a finalidade
de alugar a sua casa no próximo verão, mas como nos esquecemos de um
detalhe muito importante, agradeceríamos se nos informasse onde se
encontra o WC.”
O pastor alemão, não
compreendendo o sentido da abreviatura WC e julgando tratar-se da capela
da seita inglesa White Chapel, assim responde:
“Gentil
senhora, recebi a sua carta e tenho o prazer de lhe comunicar que o
local a que se refere fica a 12 km da casa. Isto é muito cômodo,
sobretudo se tem o hábito de ir freqüentemente. Neste caso é preferível
levar comida para ficar lá o dia todo. Alguns vão a pé, outros de
bicicleta. Há lugar para 400 pessoas sentadas e 100 em pé. O ar condicionado é para evitar inconvenientes comuns nas
aglomerações. Os assentos são de veludo e recomenda-se chegar cedo para
arrumar lugar sentado. As crianças permanecem ao lado dos adultos e
todos cantam em coro. À entrada, é fornecida uma folha de papel a cada
pessoa, mas se chegar depois da distribuição pode usar a folha do
vizinho ao lado. Tal folha é restituída à saída para ser usada durante o
mês. Existem amplificadores de som e tudo o que se recolhe é para as
crianças pobres da região. Fotógrafos especiais tiram flagrantes para os
jornais da cidade, de modo que todos possam ver seus semelhantes no cumprimento de um dever tão honrado!”
ENTENDA TUDO SOBRE AMBIGUIDADE
A
ambiguidade pode ser usada para obter um efeito de sentido no receptor.
Se ela for produzida de forma involuntária e não tiver essa finalidade
como recurso textual, será considerada indevida e inadequada por
dificultar a compreensão do texto pelo interlocutor.
Para obter
coesão e coerência é preciso, portanto, evitar essa ambiguidade, causada
por pontuação imprópria, por problemas de construção textual e por
emprego de palavras com mais de um sentido, que podem gerar, de forma
não intencional, mais de uma possibilidade de interpretação. Veja este
exemplo:
O computador tornou-se um aliado do homem, mas esse nem sempre realiza todas as suas tarefas.
O sentido da frase ficou ambíguo, porque as palavras esse e suas
podem referir-se tanto a "computador" quanto a "homem". Tanto este
quanto aquele podem não realizar o seu trabalho por completo.
Para que não ocorra ambiguidade, pode-se escrever essa frase assim:
O computador, apesar de ser um aliado do homem, não consegue realizar todas as tarefas humanas.
O
exemplo que eu dei poderia ter sido encontrado em qualquer blog que
tivesse como objetivo falar sobre os avanços na área de tecnologia. Para
evitar que isso ocorra, observe alguns casos frequentes de ambiguidade,
que podem ser problemáticos, e os sentidos possíveis de cada frase:
a) Problemas com o uso de pronomes possessivos
Raquel preparou a pesquisa com Sílvio e fez sua apresentação. (Raquel fez a sua apresentação ou a de Sílvio?)
• Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ambos fizeram a apresentação.
• Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ele fez a apresentação dele.
• Raquel e Sílvio prepararam a pesquisa, e ela fez a apresentação dela.
b) Problemas com o uso de pronomes relativos
Visitamos o teatro e o museu cuja qualidade artística é inegável. (É o teatro ou o museu que possui qualidade artística?)
• Visitamos o teatro e o museu, os quais têm qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e aquele tem qualidade artística.
• Visitamos o teatro e o museu, e este tem qualidade artística.
c) Colocação inadequada de palavras
O cliente aborrecido recusou o vinho por causa da safra. (O cliente era aborrecido ou ficou aborrecido naquele momento?)
• O cliente recusou aborrecido o vinho por causa da safra.
• O cliente, que era aborrecido, recusou o vinho por causa da safra.
d) Sentido indistinto entre agente e paciente
A recepção dos noivos foi no salão do clube. (A recepção foi oferecida pelos noivos ou eles foram recepcionados?)
• A recepção foi oferecida pelos noivos no salão do clube.
• Os noivos foram recepcionados no salão do clube.
e) Uso indistinto entre o pronome relativo e a conjunção integrante
O motorista falou com o passageiro que era gaúcho. (O motorista era gaúcho ou o passageiro?)
• O motorista disse que era gaúcho ao passageiro.
• O motorista conversou com o passageiro gaúcho.
f) Problemas com o uso de formas nominais
O pai viu o filho chegando em casa bem tarde. (Quem chegou em casa bem tarde: o pai ou o filho?)
• O pai viu o filho que chegava em casa bem tarde.
• O pai, ao chegar em casa bem tarde, viu o filho.
Você conhece situações em que a ambiguidade é desejável? Alguma piada que seja baseada na ambiguidade? Deixe-a aí nos comentários.